E,
depois, logo de manhã, pão fresco não o havia, o leite já nem tem aquele sabor
d’outrora, quando uma pessoa descia ao estábulo e mungia a vaca, aquilo é que
era uma delícia, quentinho e cremoso, ao natural!… A força daquele
pequeno-almoço bom!...
Até
para as crianças, não havendo o que chamam de ‘cereais’, lá a velhota – os pais
partiram cedo para o trabalho ou à procura dele!... – atamancava qualquer
coisa, uma paparrioca qualquer para lhes aquecer o estômago…
Fiquei
a pensar no que o Ti Manel Zé me dissera, cofiando o bigode farto e tisnado, de
queixo sobre as mãos que o luzidio cajado aguentava.
‘Atamancar’
percebi e gostei do significado: tamanco é calçado singelo, sem esquisitices… ‘Atamancar’
contém, pois, essa ideia de expediente a que se lança mão para resolver
situação urgente. Logo se busca um calçadinho melhor!...
Agora
do que gostei mesmo foi da… ‘paparrioca’! Deturpação, sem dúvida, na oralidade quotidiana,
de «paparoca», a implicar, porém, significativo pendor sarcástico, quase deliquescente…
como se o pretenso acepipe tivesse recebido água a mais…
José d’Encarnação
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 196, Maio de 2015, p. 10.
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