E
sinto-me só».
E
nós, a sentirmo-nos impotentes!
Passam
ambos dos 65. Estamos, porém, em 2015, quando – de acordo com o que à nossa volta
se observa – essa é uma idade em que ainda se não pensa em morrer e há toda uma
experiência acumulada a partilhar. Mas… se não há filhos nem netos nem
sobrinhos nem afilhados sequer! À volta, as moradias não têm gente durante o
dia e, à noite, é uma lufa-lufa pegada, dá banho ao miúdo, que é que vamos preparar
para o jantar, que queres levar amanhã na marmita, e tu, Pedrinho, guardaste a
senha para a cantina?...
Pensara
a Margarida que, após os 65, mesmo que só fossem os dois, acabariam por ir aqui
e ali, ele apoiaria os bombeiros como gosta, ela reuniria as memórias de tantos
anos de ensino, talvez ainda tivesse paci ência
para umas explicações aos filhotes das amigas, e dava-lhe gosto escrever; se
calhar, até conseguiria levar a bom termo aquele livrinho sobre África. Sim,
poder-se-ia escrever também sobre a guerra, seria uma forma de catarse, de dar
a volta por cima, de esconjurar esses medos, cuidado que está aí uma mina,
bolas, que isto ia tudo pelos ares!...
Mas
não! Toda a família estava longe – se é que ainda a havia, porque foram
perdendo os laços. As noites, infindáveis; infindáveis, por seu turno, os dias
também – sem jeito sequer para preparar aquela caprichada sopa rica. Nem
vontade para plantar cebolinho, vigiar as lagartas das couves, fazer apetitosa
limonada...
E
nós, a sentirmo-nos impotentes!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento
(Mangualde) nº 658, 15-03-2015, p. 14.
A escrita sobre reflexões sempre me atraiu - gostei - um abraço cpfeio -
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