Prevista
para as 18 horas, a sessão iniciou-se já quase às 19.
Dinis de
Abreu, responsável pelo Departamento de Comunicação
da Estoril-Sol deu por aberta a sessão, em nome da senhora presidente, e foi o
Dr. Mário Assis Ferreira, presidente do Conselho de Administração da Estoril-Sol, o primeiro a usar da palavra.
O escalpelizador
discurso de Mário Assis Ferreira
Do seu
discurso cumpre-nos salientar alguns passos, pelo enorme significado que detêm
na actual conjuntura político-económica. Assim, Assis Ferreira começou por afirmar
que «perante progressivas e continuadas quedas de receitas» sofridas, se vira
forçado «este ano, a mitigar, em algumas vertente s,
a pureza conceptual do pioneiro modelo multidisciplinar de Casino que, ao longo
de mais de duas décadas», erigira «como matriz diferencial da Estoril-Sol». E
esse modelo, explicitou, detém, por «intrínseca convicção »
imprescindível tónica cultural: se «imperativos de austeridade» obrigaram «a
reduzir a oferta de espectáculos e de animação »,
«outros irrenunciáveis imperativos» «impeliram a manter, até ao limite do
possível, os Prémios Literários instituídos pela Estoril Sol, do mesmo passo
que», acrescentou, «não abdicámos de oferecer aos nossos visitantes uma Galeria
de Arte com um espaço generoso, por onde têm passado os trabalhos dos mais
importantes nomes das nossas Artes Plásticas».
Referiu-se
de seguida às 15 edições ora completadas do Prémio Fernando Namora, a que
recentemente se acrescentou, «já com o patrocínio de Agustina Bessa-Luís, o
Prémio Revelação com o seu nome»,
que veio eficazmente contribuir para a descoberta de novos talentos.
Por conseguinte,
concluiu, «a promoção da Cultura é um
desígnio que nos acompanha desde há muito e ao qual nos queremos manter fiéis,
não obstante as contrariedades resultantes do clima depressivo que tem assolado
o País». E, dirigindo-se, de modo especial, à Senhora Presidente da Assembleia
da República, Mário Assis Ferreira, não hesitou em afirmar:
«É em períodos
de crise, como aquele que vivemos – e a que o Turismo, bem como o nosso sector
de actividade não estão imunes – que precisamos de responder com energia,
criatividade e determinação .
Não me
canso de repetir, desde há mais de duas décadas, que, por vocação e dever cívico, a Estoril-Sol tem um compromisso
sagrado com a Cultura e com as Artes.
E, nesse
particular, somos “Egoístas” – aliás, como o soube ser essa revista de
vanguarda, baptizada de “Egoísta”, multipremiada no País e no estrangeiro, que
se transformou em ícone e publicação
de culto. Um mila gre de
sobrevivência, este ano infelizmente interrompido, mas que nos empenharemos,
num futuro próximo, em reanimar.
Ocorre-me,
bem a propósito, Eduardo Lourenço que um dia escreveu: «Somos um povo entre os povos, não somos o centro do
mundo. Já Camões se tinha apercebido de que éramos uma espécie de mila gre… Esse mila gre
é uma coisa que nos enlouqueceu. Mas todos precisamos de loucura para suportar
a vida (…)».
Foi com
esse “grão de loucura” – melhor diria, de reflectida ousadia – que a Estoril-Sol
cresceu e se afirmou – com o desígnio na Alma, com a Cultura no Espírito, com a
Arte no Coração !».
Uma cerimónia muito
digna
E a
dignidade da cerimónia prosseguiu com o eloquente discurso do presidente do
júri, Vasco Graça Moura, que salientou as oportunas mensagens trazidas pelos
romances ora premiados, que bem se distinguem do que habitualmente surge por aí
nos escaparates, servido por bem orquestrada publicidade.
No que
concerne a Domínio Público, o romance
de Paulo Castilho, um diplomata e escritor já consagrado, reiterou a ideia de que se trata de «uma obra que propõe um
olhar tão lúcido quanto irónico sobre as relações humanas na sociedade
portuguesa actual»; «a caracterização
das personagens, nos seus encontros e desencontros, nas suas ilusões e
expectativas, nas suas boas intenções ou até no seu cinismo, é feita em
registos bem diferenciados, com agilidade e humor», revelando «uma
surpreendente mestria no entrelaçar dos fios da narrativa com a técnica do
monólogo interior, ao mesmo tempo que utiliza de modo elegante e flexível a
língua portuguesa».
Quanto a A Vida Inútil de José Homem, da
psicóloga clínica Marlene Correia Ferraz, natural de Viana do Castelo,
salientou a sua «apreciável desenvoltura narrativa» e, também, «uma relação criativa com a língua portuguesa”, aspecto que
nos apraz registar, pois vemos no dia-a-dia a língua portuguesa ser cada vez
mais enxovalhada, mesmo ao nível dito literário. Saliente-se, ainda, que, evidenciando
«situações dramáticas da memória histórica portuguesa africana, num
enquadramento interessante e, em certa medida, original» – para usarmos das
palavras do júri, repetidas por Graça Moura – A Vida Inútil de José Homem se prende com um dos aspectos que, hoje
em dia, mais nos tem obrigado a reflectir: as guerras coloniais e as suas consequências,
que ainda se não dissiparam de vez – nem tão cedo virão a dissipar-se!
Cada um dos
premiados falou depois. Paulo Castilho não se eximiu de lançar uma farpa à nova
literatura portuguesa, que enxameia as livrarias, onde dificilmente, à primeira
vista, se encontram as obras clássicas. E concluiu: «Como escritor, agrade ço; como cidadão, estou apreensivo». Marlene
Ferraz, por seu turno, que considerara o seu livro «um sopro nos meus dedos,
mas um arrepio no coração », fez antec eder os agrade cimentos
formais de um belo trecho, a sintetizar o que pretendera transmitir através da
escrita.
A concluir,
Assunção Esteves congratulou-se com
os prémios atribuídos, saudando os autores e aplaudindo a iniciativa da
Estoril-Sol.
Estiveram também
presentes Nuno Crato (ministro da Educação
e Ciência), Mota Amaral e o presidente da Câmara Municipal de Cascais, entre
outras individualidades convidadas.
O júri de
ambos os prémios foi constituído por Guilherme d’Oliveira Martins (que esteve
presente na sessão), em representação
do Centro Nacional de Cultura; José Manuel Mendes, da Associação Portuguesa de Escritores; Maria Carlos Gil
Loureiro, da Direcção Geral do Livro
e das Bibliotec as; Manuel Frias
Martins, da Associação Portuguesa
dos Críticos Literários; e, ainda, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz,
convidados a título individual; e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu , em representação
da Estoril-Sol.
Seguiu-se
um jantar em honra dos premiados no Restaurante «Estoril Mandarim».
Publicado em Cyberjornal,
07-07-2013:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=18584&Itemid=67
Post-scriptum: Foto gentilmente enviada pelo Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol: Assunção Esteves com os premiados. As fotos da entrega dos prémios são de Luís Bento.
Post-scriptum: Foto gentilmente enviada pelo Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol: Assunção Esteves com os premiados. As fotos da entrega dos prémios são de Luís Bento.
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