Como
todas as rádios locais e todos os jornais locais, a sua missão deveria ser – e
é-o norma lmente – a de criar
comunidade, noticiando o que se passa, o que se precisa, as reivindicações, as
necessidades, os melhoramentos, as iniciativas… na localidade.
Então,
o que é que acontec eu?
A
Rádio Bragançana (RBA) foi comprada pela Média Capital e assim se «calaram 24
anos de comba te ao isolamento», como
se lê na reportagem de Miguel Carvalho. A estupefacção
do povo foi enorme: «Agora, a RBA retransmite na região a emissão da M80,
urbana e sofisticada, em piloto automático desde Lisboa» e acrescenta-se:
«A
rádio, dir-se-á, é o universal sem paredes. Excepto, claro, quando a animadora
da capital saúda o lindo dia de sol e, em Bragança, chove»!...
Recordo,
por exemplo, o que me dizia, aqui há tempos, o meu amigo João, que trabalha em Bruxelas
e ouve a Antena 1: «Eh pá, vocês aí estão sempre trompicados com o trânsito de
manhã: ele é engarrafamento no IC 19, na A5 desde Porto Salvo, na A2 desde a 2ª
ponte do Feijó… E eu, sossegadinho, a ir a pé, daí a pouco, para o emprego»…
Claro,
as rádios ‘vivem’ nos centros urbanos e, de manhã e à noite, o trânsito e o
tempo são os pratos fortes… em Lisboa e no Porto. O resto do país é… paisagem,
como sói dizer-se!
E
só para terminar o caso de Bragança: a questão resolveu-se e já outra rádio se
prontificou a continuar a missão de ‘criar comunidade’, deixando para outros
ouvidos as emissões do piloto automático gerido a partir da capital.
Não
precisamos, porém, de ir de abalada até Bragança: onde há aqui, no concelho de
Cascais, uma rádio local a que estejamos permanentemente ligados? Perdoar-me-á
o leitor se evoco os tempos do Rádio Clube de Cascais, em que procurávamos ser
efectivamente locais. Perdoar-me-á se lhe digo que também por estas bandas o
tempo climatérico não é o de Lisboa e até achamos piada quando esse tal de Instituto
do Mar e da Atmosfera (acho o nome giro, quem teria sido o sábio que o
inventou?...) fala de alterações «a norte de Cascais»! A «norte de Cascais»? O
que é isso? Do outro lado da serra de Sintra? E quando dizem que é a norte do
Cabo Raso?!... Não percebo. Aliás, desafio alguém a perceber, mormente os que
moramos em Cascais e desde sempre nos habituámos, pela manhã, a olhar pela janela
para a serra a ver se tem «barrão» ou se está limpa, sinais que todos
compreendemos bem em relação a
vento, a chuva ou a calor.
Está
aí em força a campanha eleitoral para as autarquias. Cartazes mais ou menos
vistosos, frases mais ou menos para ficar no ouvido, partidos mais ou menos
‘escondidos’, de cores ligeiramente alteradas, porque se compreendeu que o Povo
já não vai nessa dos partidos… Pois aqui fica o apelo: pensem, senhores
candidatos, em – sem intromissões político-partidárias – promover uma real
comunidade, mediante sadia utilização
dos meios de comunicação ao dispor.
Precisamos de mais comunicação e de
menos publicidade.
E,
já agora que estamos em maré de sugestões e na perspectiva de, afinal, esse tal
Instituto do Mar e da Atmosfera se enganar nas previsões e virmos a ter um
Verão «à maneira», com boas possibilidades de irmos, por exemplo, até ao
Guincho e de outros nos virem visitar para usufruir das nossas praias bafejadas
com bandeiras azuis e bonitos títulos de «as mais acessíveis»… trate-se, já, de tornar a zona ocidental de
Cascais mais acessível: abra-se aos dois sentidos, com carácter de urgência, a
Rua das Violetas, em Birre, já que não se consegue acabar de forma airosa o
final da A5. Não haverá perturbações ambientais nem riscos de insegurança e
dará muito jeito a quem, da auto-estrada, quiser ir para Birre, Torre, Guia, Areia
e Guincho seguir pela Rua das Violetas, em vez de se infernizar na sempre engarrafada
«rotunda de Birre».
Se
houvesse uma rádio local, por isso pugnaríamos a todo o momento!
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 5, 03-07-2013, p. 6.
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