O processo da candidatura – nem
sempre fácil – começou a ganhar fôlego em 1999 e, para além dos vetustos
edifícios universitários, procurou que nele se incluísse toda a chamada «Alta»,
com as construções do Estado Novo, e também a Rua da Sofia, num conjunto de
mais de 30 edifícios. A este património material juntou-se, a partir de certa
altura – e esse foi um aspecto muito salientado pelos membros do Comité – o
património imaterial a ele inerente: a produção
cultural e científica, as tradições académicas, o papel desempenhado no mundo
ao serviço da língua portuguesa. Aliás, foram nesse sentido – de acordo com as
notícias que nos chegaram – as intervenções mais entusiasmadas de membros do
Comité, que advogaram a classificação
‘imediata’ desse património no seu todo. É a Universidade como símbolo de uma
“cultura que teve impacto na humanidade”.
Junto, pois, incondicionalmente, a
minha voz ao regozijo de todos, recordando, como teve a gentileza de me lembrar
Paulo Morgado (que de perto acompanhou o processo), as palavras do anterior
Reitor, Seabra Santos: «Sobre estas pedras velhas a universidade está a
construir o seu futuro».
É que, na verdade, não temos uma,
mas ‘várias’ universidades. A que ora foi classificada é um símbolo; é aquela
que recordam os que por Coimbra passaram – e a cantam. A que existe, porém,
mercê da mordaça económica com que o capitalismo desenfreado apertou o ensino
universitário europeu, é uma Universidade de luta quotidiana ,
porque a querem reduzir ao papel de… empresa! Quando – e este é apenas um dos
muitos exemplos que poderiam invocar-se – uma sociedade de advogados,
contratada pela Universidade para forçar ao pagamento de dívidas, não aceita o
parecer de professores segundo o qual um aluno, apesar de se haver inscrito, nunca
frequentou as aulas e, por isso, não há que lhe cobrar propinas, e envia o
processo para tribunal, com elevado montante de custas, temos a certeza de que
não foi esta a Universidade ora classificada.
«Saibamos
honrar, conservar e preservar as pedras velhas, o título e o saber», escreveu Paulo
Morgado.
Oxalá!
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 619, 01-07-2013,
p. 12.
Assim esperamos que seja! Pelo bem classificado! Por todos nós que somos e formamos Coimbra
ResponderEliminarObrigada por este texto