Contudo,
as mãos de hoje já não são as mãos de outrora! Júlia Ramalho bem pode
apresentar no seu stand as fotos da sua avó, Rosa Ramalho, uma lenda viva, uma velhinha
que nos encantava e ali fazia diante de nós os seus esguios e bem estranhos bonecos,
que pareciam ter nascido de uma outra civilização ,
no vidrado verde-amarelado de Barcelos. Hoje, não há Rosas Ramalhos a
trabalhar; nem o Josafaz dos nossos Cristos; nem o Procópio Gageiro, canteiro
ornatista, de Loures, hoje com mais de 80 anos, que da pedra bruta fazia nascer
máscaras, leões, gárgulas, florões… Da cerâmica tradicional, apenas vimos a do
Redondo. S. Pedro do Corval é capaz estar também por ali e algum revendedor
terá os barros de Bisalhães ou de Molelos e as procissões de Estremoz. Vimos mantas de burel, malas de cortiça, os tapetes de
Arraiolos, muitos santos antónios e muitos presépios; saboreámos a ginja de
Óbidos no copo de chocolate, pois então!...
E
a gastronomia – a par do dominante artesanato urbano – tem lugar ímpar, com os
pratos típicos de Portugal de lés a lés. Uma caravana do Santini poupa-nos uma
ida até à Valbom ou a S. João, para saborear gelados verdadeiros. E há o pão
com chouriço acabadinho de sair do forno, o algodão doce, as pipocas feitas na
hora…
No
primeiro dia, Hélder Moutinho fez as honras do recinto, no seu fado castiço. E
o programa inclui – para além de ranchos folclóricos e dos domingos de jaze –
outros artistas como Ana Lains, Cuca Roseta (que já o ano passado nos encantou),
Frei Hermano da Câmara (uma reaparição !),
Camané, Luís Represas… Enfim, cada noite uma atracção ,
mesmo quando houver as Festas do Mar, mesmo que a FIL anuncie uma Feira de
Artesanato Internacional, fazendo de conta que a Fiartil não existe já há 50 anos
e eles agora é que andam no copianço!...
Não,
ainda não voltámos a ter no primeiro dia o tradicional convívio que a Junta de
Turismo proporcionava entre as personalidades ligadas ao turismo local. Mataram-no.
Não vimos hoteleiros, nem vereadores, nem autoridades, nem candidatos
autárquicos… Estiveram, porém, Manuel Casaleiro, o ‘senhor da feira’ desde a
primeira, em 1964; Alves de Azevedo, que ali passava, em nome da Junta, as
noites inteirinhas, para que tudo corresse bem. Mas houve beberete, para troca
de impressões entre os poucos que decidiram reatar a tradição . 50 anos sempre são 50 anos!...´
O
nosso voto: que a Fiartil alcance em pleno os seus objectivos e que, de certo
modo, aquele espaço lá em cima, dedicado à pequenada, seja um hino de esperança
no futuro e um grito de alerta para os responsáveis: o nosso artesanato, o
verdadeiro, esse tal «Portugal pelas mãos do seu povo», o Portugal profundo,
nosso, tem pernas para andar, é mostra de identidade, há que urgentemente
dar-lhe a mão!
Nota: Fotos de instantâneos da inauguração, no dia 28, gentilmente cedidas por Luís Bento. Bem haja!
Publicado em Cyberjornal, edição de 04-07-2013:
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