Os factos: a 49ª
edição da FIARTIL – Feira do Artesanato
do Estoril – abriu na quinta-feira, 21 de Junho, às 18.00 h. Pelo Gabinete de Imprensa
da CMC, foi enviada à Comunicação
Social, às 18.08 horas desse mesmo dia, a seguinte informação :
«A partir de hoje, dia 21 de
junho, abre portas mais uma Feira de Artesanato do Estoril, promovida pela
Câmara Municipal de Cascais, através da Cascais Dinâmica, no recinto em frente
ao Centro de Congressos do Estoril. Até dia 2 de setembro, o certame mais
antigo de Portugal reúne mais de três centenas de artesãos para mostrar ao vivo
técnicas e tradições ancestrais das artes populares de Portugal. Com um vasto
programa de animação , de que fazem parte nomes como Paulo de
Carvalho, Vitorino, Lenita Gentil, Carlos Alberto Moniz, Ana Lains e Cuca
Roseta, este ano, pela primeira vez na história da Feira do Artesanato do
Estoril vai também decorrer um concurso de Fado, para descobrir novos talentos
desta sonoridade que é património imaterial da humanidade.»
No dia seguinte, 22, no começo
da tarde, foi-nos enviada a habitual agenda do presidente, onde constava para
esse dia, às 18.00 horas, a sua presença na «inauguração da Feira do Artesanato do Estoril».
Pelo que pude apurar, estiveram presentes ao acto pouco mais do que cinco
individualidades. As fotografias divulgadas, por exemplo, pelo nosso prezado colega
local que teve publicidade de capa (página inteira), na sua edição do dia 27, mostram dois artesãos sozinhos e a imagem
dos dois intervenientes na inauguração :
o Senhor Presidente da Câmara e o Senhor Presidente da Cascais Dinâmica, a empresa
municipal que gere a feira.
Por conseguinte, observados os factos, creio justificar-se a pergunta
feita: preconizaram uma inauguração envergonhada,
para, por exemplo, não fazer concorrência aos outros muitos eventos da temporada,
ou tudo isso reflecte uma enorme incompetência ou desinteresse pela Feira por
parte da Cascais Dinâmica?
Vivemos em Cascais há muitos anos. Acompanhamos a Feira do Artesanato
desde o 1º ano em que nasceu, quase no âmbito das comemorações do VI centenário
da elevação de Cascais a vila. No
Antigo Regime, sucedânea de certo modo, como fora, do Mercado de Abril, a
inauguração tinha honras de Chefe de
Estado e ministros. E assim continuou nos primeiros anos após a Revolução , porque se compreendia perfeitamente que o
artesanato vivo que ali se apresentava, além de ser forte atracção para os habitantes – ponto de encontro privilegiado
das noites dos nossos Verões – o era também para os forasteiros. Turista que se
prezasse ia à Feira do Artesanato saborear petiscos bem portugueses e
deliciar-se com o que eu cheguei a chama r
«Portugal pelas mãos do seu Povo». Ali se convivia com os bonecos da Rosa Rama lho, de Barcelos, os Cristos ingénuos de Mestre
Josafaz, a louça de Bisalhães ou os barros negros de Molelos, as procissões com
centenas de figuras de Estremoz, a loiça de S. Pedro do Corval, as filigranas
minhotas, as rendas de bilros, as bilhas de Nisa… Era isso: Portugal pelas mãos
do seu povo, vendo trabalhar ao vivo artesãos autênticos.
E o dia da inauguração era um
dia de festa, o Dia da Festa do Turismo Local. Nessa tarde – por que se
esperava o ano inteiro – ali se reuniam os hoteleiros, os responsáveis pelas agências
de viagens, os capitães do Porto (o que estava em funções a os anteriores,
porque, por inerência do cargo, o capitão do Porto pertencia à Junta de Turismo),
os representantes das forças vivas do concelho, os jornalistas locais e os nacionais,
representantes de empresas ligadas ao turismo, a vereação
cama rária, os deputados municipais, membros
dos executivos das juntas… Enfim, a inauguração
constituía agradável pretexto para troca de impressões e de experiências, para
gizar novos projectos, para, enfim, juntar num mesmo recinto emblemático
quantos contribuíam para o que era (e não continuará a ser?) a principal fonte
de riqueza do concelho.
Nessas alturas, não estava lá, claro, ninguém da actual Cascais Dinâmica.
Não admira, por isso, que dessa memória nada se tenha retido ou recebido. Ou,
se se recebeu, decidiu-se fazer tábua rasa, para se ser inovador ou, se calhar,
para tentar reduzir a feira a algo sem importância de maior. E é pena. Mormente
porque depressa se terá esquecido, por exemplo, das lutas grandes que tivemos para
que esse pinhal fosse preservado para a feira e não transformado – houve
projecto quase em fase de aprovação !...
– em empreendimento habitacional de luxo, arrancando os pinheiros e contaminando
também o manancial que lhe passa por baixo e alimenta as termas do Estoril.
É pena que se
tenha perdido a memória. È pena que não se publicite mais a feira (que a
determinado momento se começou a chama r
Fiartil porque englobou artesanato doutros países). É pena que o artesanato lídimo
tenha dado lugar, de modo prevalente, ao chama do
artesanato urbano. Mas… é o que temos, que é que se lhes há-de fazer? Se, ao
menos, tivessem estudado a História Local!...
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 318, 18.07.2012, p. 6].
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