Os cerca de 200 melómanos que
resolveram ir até à igreja dos Salesianos do Estoril, na passada quarta-feira, 11,
não deram seguramente por mal empregado o seu tempo, pois tiveram a dita de assistir
a um dos mais fabulosos concertos que por estas bandas nos foi proporcionado.
À bem criteriosa escolha do reportório
associou-se o virtuosismo ímpar dos executantes, que nos deliciaram. Ouvi-los-íamos
noite fora: foi a sensação com que ficámos. Dos 13 violinos aos 3 violoncelos e
um baixo mais as três guitarras – todos nos brindaram com interpretações
magníficas.
Sim, o 38º Festival do Estoril começara
no Largo de S. Carlos, no dia 5, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, mas
estes Menuhin Academy Soloists, integrando músicos de variados países europeus
encheram-nos as medidas!
Dirigidos pelo romeno Liviu Prunaru,
violino, começaram por interpretar a Simple Sumphony op. nº 4, de Benjamom
Britten: à alegria saltitante e quase heróica seguiu-se a serenidade bucólica
do entardecer, que um pizzicato
acordou para, de novo, extasiar na tranquilidade dolente a que os braços de
Cristo pareciam convidar e a excelente acústica do templo nada deixava perder; heroicamente,
dialogaram os violinos no último andamento, um vivace presto.
De Malcolm Arnold, a obra 77, «Concerto
para dois violinos» (Liviu Prunaru e Valentina Svyatlovskaya, russa) e cordas:
uma imagem sonora da turbulência actual (a obra é de 1962). Transcrição de Piñeiro
Nagy e orquestração – eloquente! – de Tiago Derriça, circunstância que se
repetirá nas Goyescas e nas peças de Albéniz. Parabéns!
Após o intervalo, Espanha foi nossa
companhia. Primeiro, um intermezzo
das Goyescas, de Enrique Granados, em que já intervieram, à guitarra, Piñeiro
Nagy (a grande e perseverante alma mater das Semanas de Musica do Estoril) e o
MikroDuo (Pedro Luís e Miguel Vieira da Silva). Depois, o eterno Isaac Albéniz,
em três peças, retratando cada uma a alma de sua cidade ou região: Astúrias,
Cádis e Córdoba. E as guitarras gostaram das cenas e lá ficaram para o primeiro
extra: uma canção de Manuel de Falla. Delicioso, em seguida, apesar de bem
retratar a fúria dos elementos a perpassar pelo endiabrado movimentar de dedos
a comprimir as cordas, «Invierno porteño», de Astor Piazzola, com Oleg Kaskiv
(ucraniano), violino, como solista: longos foram, naturalmente, os aplausos e
os bem merecidos «bravo!». E Liviu como que aceitou o desafio não para uma desgarrada
mas para o trecho de uma abertura de Bach: magistral!
A finalizar, Navarra, de Pablo Sarasate:
a alegria das danças rodopiantes, em rimo de valsa bailam frenéticos os dedos
pelas cordas… Mas… tivemos direito a mais dois trechos extra-programa, para
terminarmos em ritmo de tango, como convém a quem saiu do templo com a alma
cheia!...
O festival volta no sábado, 14:
Naseer Shamma trará lendas do Médio Oriente, em alaúde, à Sala Atlântico do
Hotel Palácio.
Publicado no Cyberjornal, edição
de 12-07-2012:
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