García
Lorca: Composto no ano 2000, em Granada. Sonoridade surpreendente.
Primeiro, introdução ; depois,
dança-se! Ninguém diria que é um instrumento apenas e só o dedilhar de cinco
dedos nas oito cordas do alaúde. Não há por aí saias roçagantes? Ninguém diria!
Faz-se uma pausa agora, para um beijo ou um cheiro de amores-perfeitos no
jardim do Alhambra. E há um véu que esvoaça. E não é corridinho algarvio
também?
Córdoba:
Tímidos acordes, como vontade de quem não quer despertar belezas.
Arrisca-se depois, num convite ora hesitante ora sedutor, em malabarismos de
sons irrequietos ou dolentes. Mas desculpem: é só um instrumentista a tocar?
Para onde, afinal, nos quer levar tão melodiosamente? Agora em cavalgada, parece!
E cantamos baixinho.
Primavera
árabe: Num apoio à Tunísia e aos outros, um após outro. Começo plangente
como quem pergunta: porquê? E há quem marc he
alegre, com pressa de cantar liberdade. Esboça-se um hino heróico. Ainda
precisamos de avançar mais? E podemos ensaiar um passo de dança? Em frenesim,
está bem? Que a vitória tem de ser nossa!
Infância:
Compôs para a filhota, de dois anos; agora tem sete. A ternura duma meiguice,
na iniciação aos sons bonitos da
vida. E pode ensaiar uns passinhos, não? Tens razão! A música é assim como um labirinto;
mas poderás dançar sem te perderes, descansa! Saltita! E já sonho contigo, a saltitar
pelos campos joviais! Vamos brincar? Correr, correr, correr!...
Bagdade:
De um Iraque donde saiu há 19 anos, devido à ausência de liberdade e também pela
ocupação americana. Que posso mais
fazer senão planger? Dói-me o coração ,
choro a ausência. Estou dolente e pergunto-me porquê. E se eu rodopiar, a tristeza
passa? Rodopiarei então! E vocês vão cantar comigo! Há tanques ameaçadores ali?
Deixá-los!
De
Ashur a Sevilha: Depois da flauta, foi o alaúde assírio o primeiro
instrumento de cordas; todos os alaúdes de Sevilha vieram daí. Toquemos com a
forma mais primitiva de o fazer: com cinco dedos só. Só com cinco dedos? Não
parece! Ah! Já estamos no sapateado do flamenco, diríamos! E que dedilhar é
este, senhores? Ecos do Tigre e do Eufrates, águas de ambos a beijarem o Guadalquivir?
Assim em turbilhão não queremos! Ou é a euforia do encontro? Rodopiaremos,
pois, em delírio!
A viagem das almas: Começa
lentamente, como quem não quer partir. E há uma melodia ao longe, não ouves?
Ainda hesito em partir, sabes? E se entoássemos uma canção ?
Seria melhor, não achas? Vá lá, façamos este diálogo entre os baixos e os altos.
Pronto, estamos decididos: é partir! Eu domino bem a sonoridade do meu alaúde,
numa carícia…
Retrato: Do folclore árabe. E
este é mesmo para bailar. Até apetec e
bater palmas, assim ao ritmo do compasso. Mudemos os ritmos, para quebrar monotonias.
E vai a melodia a ecoar pelo Atlas, frenética ainda, frenética… Ah! Mas não é
um turbilhão de alaúdes, uma orquestra? Não. É um só. Parece mentira. E termina
com uma só mão.
Síria: Foi o brinde aos cerca
de 400 assistente s, num
agradecimento aos senhores embaixadores árabes, ao Festival (na pessoa de Piñeiro
Nagy), ao engenheiro do som, a quantos quiseram encher a Sala Atlântico do Hotel
Palácio no Estoril, para o o ouvir a ele, Naseer Shamma, na noite de sábado,
14, e as suas «Lendas do Médio Oriente», ele que pela primeira vez está entre
nós, no âmbito do 38º Festival de Música do Estoril.
Síria sacrificada, morte nas ruas, crianças… O som forte de quem aguenta
a pé firme, sem vacilar e trauteando uma cantiga. Alguém tombou agora, choremos
pelo inocente, numa canção de embalar!
Rufam tambores mil pela cidade ensanguentada! Apoteose! E o Sol irá raiar de
mansinho!...
Publicado no Cyberjornal, edição de 16-07-2012:
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