sábado, 16 de março de 2013

«Abábuas»!

            Abábuas! O menino tem a pernita cheia de abábuas! Foi um bicho que lhe passou por cima, com certeza, e lhe provocou essa inflamação! Está cheio de borbulhagem! Foi isso: centopeia, melga, mosquito dos grandes ou até, se calhar, uma osga, sabe-se lá!... Vamos desinfectar com álcool! Vai arder um bocadinho, mas é pra te curar e tirar a comichão, pra não te coçares, tá bem?...
            «Abábuas»: foi essa a palavra da minha meninice que, tantos anos passados, ora me ocorreu, quando a pernita de um dos meus netos apresentou esses sintomas. E dei comigo a pensar: «Abábuas? Que estranha palavra essa: donde virá?».
            Claro que a pesquisa no dicionário e na Internet não resultou, porque, a existir, o vocábulo é apenas a corruptela de uma ou de duas palavras que têm precisamente esse significado de erupção cutânea, prurido, provocado, por exemplo, pela passagem ou picadela de insecto:
– de baba, com a junção, mui frequente na fala, do a em prótese (como em amandar);
– ou de pápula, sem dúvida mais difícil de pronunciar para ouvidos pouco atreitos a palavras eruditas.
Essa ideia de os ‘bichos’ (mesmo as úteis e inofensivas osgas…) provocarem doenças constitui, aliás, uma crença popular, hoje não despicienda, quando, por tudo ou por nada, se diagnostica: «É uma virose!». E está bem patente naqueloutra palavra de que já tratámos aqui (Ago/Set 2010): o bichoco, espécie de furúnculo, difícil de sarar. Bichoco está por… bicharoco!

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 170 (Março 2013) p. 10.

 

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