terça-feira, 19 de março de 2013

Os nossos poetas…

            Acabo de ler No Orvalho das Horas, um livro de poemas de Julieta Lima, uma olhanense nascida em 1949, que vive em Almancil. São pinceladas aparentemente simples, breves, sem rima nem ritmo de embalar, mas que encerram nessa singeleza uma funda reflexão. Não é apenas a beleza da frase e o seu encadeamento fora do comum que nos seduzem: o explícito pode parecer estranho ou, até, banal; o implícito, porém, determina uma pausa antes de se passar à página seguinte.
            Aliás, não estarei certamente longe da verdade se afirmar que a primeira pessoa tocada pela densidade forte dessas palavras poucas foi a ilustradora do livro, Beatriz Sousa, que, também ela em pinceladas aparentemente simples e breves, realça e retrata a preto e branco, magnificamente, a mensagem recebida.
            Sugere-nos No Orvalho das Horas um apelo: escoa-se-nos o tempo por entre os dedos, tem duração efémera qual gota de orvalho a perlar pétalas de rosa… Há que deliciadamente aproveitá-lo!...
            E chegou-me, entretanto, o número de Fevereiro do nosso Notícias de S. Braz. Vem, como sempre, recheado de poemas. Há a habitual página cheia, a 18: Manuel J. Dias Ramos, Isidoro Cavaco, Manuel de Sousa Neves, Josélia Viegas, João Timóteo, Margarida Lourenço, Diamantino Brito. Mas há versos espalhados pelo jornal todo: na p. 9, a homenagem da Carola da Mesquita ao seu fundador; na 14, Maria Helena Ramos, Maria de Lurdes Cipriano e a evocação (anónima) de António Rodrigues Rosa; na 17, Maria José Fraqueza; na 19, Catarina Guerreiro; na 21, Fernando Henrique de Passos; na última página, a 24, a «poesia do mês», de Luciano Martins Lourenço; e até na página da necrologia Josélia Viegas dedica uma sextilha a Manuel de Sousa Martins (1923-2013), um canteiro do Corotelo, que também fazia versos: «Meio poeta e canteiro / Trabalhou no concelho inteiro / Com orgulho e perfeição. / O seu nome está gravado / No trabalho realizado / Fica a recordação».
            Uma característica comum abraça todas estas composições, que, em boa hora, Notícias de S. Braz não hesita em publicar: elas constituem o reflexo do nosso património imaterial. Trata-se de uma forma de expressar sentimentos face ao quotidiano vivido, uma forma agradável de os perpetuar – quais jograis da Idade Média!

[Publicado em Notícias de S. Braz, nº 196, 20-03-2013, p. 15].

 

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