Cerca
de 45 minutos em que nos foram proporcionadas, em latim, as partes mais
salientes da missa católica. Entra-se com o salmo 103, «Bendiz, ó minha alma, o
Senhor!». Invoca-se o perdão divino, numa litania que desde sempre manteve o
grego como forma e força de expressão: Kyrie,
eleison! Proclamam-se os louvores de Deus no Gloria in excelsis Deo! Há depois o Aleluia e o Credo. O ofertório
foi momento de instrumental, a cargo da guitarra e apetec ia-nos
também ter por aí harpejos antigos de uma harpa bíblica… Veio, antes, decerto
por lapso, o louvor do Sanctus. E,
antes do Pai-nosso, a fórmula final da consagração .
Depois, o Agnus Dei, a comunhão, a
sonoridade quente do violoncelo em acção
de graças e, por fim, em apoteose, o salmo 105: «Cantai-Lhe hinos e salmos,
proclamai as Suas maravilhas».
Uma razão
É provável que a
maior parte dos trechos deste disco não venham a ficar no ouvido e não sejam
trauteadas, até porque o Latim constituirá, decerto, um obstáculo. Contudo, a exaltação final do Credo soou-nos portentosa e vibrante; o
pedido «dá-nos a paz!», pela sua doçura e sincopada força, faz estremecer; o
convite à proclamação das
maravilhas, esse, sim, entusiasma e sente-se.
Explica
João Gil, nas «notas prévias» do programa, que Missa Brevis constituiu retorno à sua infância na Covilhã: «Lembro-me
de minha mãe, pessoa de enorme sensibilidade que nos soube transmitir o bom
senso e a compreensão do mundo espiritual». E admite, a terminar, que «a
austeridade dos tempo difíceis foi decisiva» para criar esta «intensidade
dramática», esta «heroicidade».
Creio
não andar longe da verdade se disser que foram bem sentidos os prolongados
aplausos finais, porque os 45 minutos ali vividos souberam a libertação , a retorno, também nosso, a um outro tempo. A
escolha do Latim espiritual da nossa infância lembrou o contraste com o domínio
frio e material do inglês da actualidade… E o inesperado de vermos músicos
consagrados voltarem-se para um tema de eternidade é sintoma da necessidade hoje
sentida de um outro olhar para a realidade envolvente.
As falhas da organização
O público começou
a chegar logo pelas 21 horas. Podia levantar-se o programinha, dava-se um
óbolo, se assim se entendesse (era para o Centro Paroquial do Estoril). E o que
é se pensou para entreter? Um vídeo de publicidade ao Centro, incitando a que,
no preenchimento do impresso para o IRS, se destinasse para ele aquela verba, lá
no quadradinho onde se põe a cruz inha
a indicar a entidade beneficiária de uma percentagem do imposto. Um vídeo de uns
dois minutos, quando muito, em que havia pessoas a falar mas não se ouviam;
via-se o gesto dos dois dedos em cruz ;
via-se, via-se, via-se… porque o vídeo passou dezenas de vezes, acompanhado, de
quando em vez, por um som semelhante ao de uma varredora mecânica. E
admiramo-nos: como é que não houve alguém que tivesse pensado em pôr fundo
musical adequado, música sacra, música clássica?...
Veio
um senhor fazer a apresentação . Não
se apresentou ele próprio (seria o senhor prior?); não se ouviu bem o que ele
disse (o microfone era direccional…).
Preferiam
os entendidos que as vozes de Luís Represas e Manuel Botelho, pelo seu timbre,
não se tivessem servido de microfones. Teria sido, quiaçá, uma sessão mais íntima,
até porque a acústica do templo iria ajudar.
Houve,
no final, a habitual sessão de autógrafos. Mas demoraram muito os dois
protagonistas a aparecer lá dos fundos e o público já se impaci entava.
Publicado em Cyberjornal, 14-03-2013: http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=17984&Itemid=67
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