Na
verdade, nascido a 25 de Abril de 1964, Jornal
da Costa do Sol continha no seu arquivo toda a história de Cascais e também
de Oeiras, quer em textos, quer em documentação, quer em imagens, desde essa
época, porque acompanhava semanalmente o que de significativo se passava nesses
concelhos.
Toda
a colecção dos jornais está, é certo, disponível na biblioteca municipal;
contudo, para além da notícia que se faz, há as imagens que se guardam e se
seleccionam, a correspondência… Infelizmente, porém, parte bem volumosa desse
espólio já levara descaminho antes de – por deferência do proprietário do
imóvel, Vilar Gomes – os funcionários da Câmara terem metido ombros à tarefa de
juntar o que havia.
Logo
após o 25 de Abril, haviam desaparecido, por exemplo, as provas de censura, que
era um dos arquivos mais interessantes de que se dispunha, por mostrarem, na
realidade, como funcionava o «lápis azul» – e Jornal da Costa do Sol era, nas vésperas do 25 de Abril, juntamente
com o Jornal da Madeira, o Jornal do Fundão, o Notícias da Amadora, obrigado a mostrar aos censores provas de página,
porque… ‘eles’ não confiavam em nós!...
Recorde-se
que, na altura da chamada «Primavera marcelista», escrevia no Jornal da Costa do Sol Magalhães Mota,
que fazia o relato das sessões da Assembleia Nacional, amiúde censurado, como o
seriam também os textos, também sobre a Assembleia, saídos da pena de Viriato
Dias em 1972. Aliás, por ser feito na mesma tipografia – a Mirandela – em que
se começou a fazer o Expresso, houve
sempre uma grande ligação entre as equipas e Francisco Pinto Balsemão chegou a
assumir a direcção do jornal, de Março a Julho de 1976, uma experiência
‘profissionalizante’ que acabaria por não dar resultado e os membros da equipa
anterior houveram por bem regressar e recomeçar a publicação a 10 de Dezembro
desse ano.
Um observador atento da actividade autárquica
Foi
habitualmente «semanário dos concelhos de Cascais e de Oeiras», à excepção de
1981, em que, por dificuldades financeiras, se publicou quinzenalmente.
Exerceram
os seus redactores, sem peias, uma função de cidadania, o que nem sempre
quadrava bem ao poder autárquico instituído, com o qual o relacionamento – como
frequentemente acontece, por esse Portugal além, entre as autarquias e a
Comunicação Social local – se procurou manter isento de partidarismos, mas
difícil. Por exemplo, com Georges Dargent e, nomeadamente, com António Capucho,
a tensão foi constante, indo ao ponto de haver ordem expressa para ao jornal
não ser proporcionada publicidade, mesmo a institucional.
Asfixiado,
encerrou portas, como se disse, sem mais nem menos, no princípio de 2010. Os
accionistas de Publigráfica, SARL, a empresa proprietária, não tiveram
possibilidade de agir, dados os fortes condicionalismos económicos a que se
chegara e, desde então, o nosso receio era de que, de um momento para o outro, entrassem
por ali adentro os agentes judiciais e despejassem, sem tir-te nem guar-te, um
espólio histórico-documental ímpar.
Moveram-se
influências e, felizmente, podemos agora informar que, mercê delas, a
documentação ainda disponível acaba de dar entrada no Arquivo Municipal, onde
será devidamente tratada, a fim de vir a ser colocada ao alcance dos investigadores,
porque – sem receio de errar o afirmo – não pode fazer-se a história de Cascais
(e de Oeiras) nas últimas cinco décadas, sem uma leitura atenta das páginas do Jornal da Costa do Sol, do que nelas se
escreve e do que nelas não se pôde escrever e se subentende.
E eu (perdoe-se-me
a primeira pessoa), que (quase ininterruptamente) fiz parte do ‘projecto’ (como
hoje se diz), desde Outubro de 1967 até final (mais de quarenta anos!...),
particularmente me congratulo, como jornalista e como historiador, por as
negociações terem obtido o resultado que ora – pela pronta informação que me
foi disponibilizada pelo Dr. António Carvalho, irmanado comigo nestas preocupações
histórico-patrimoniais – tenho o gosto de anunciar.
Publicado em Cyberjornal, 2013-03-29:
Caro Zé,
ResponderEliminarParabéns por este texto, que desperta as saudades que tenho do Jornal da Costa do Sol, e pela tua meritória iniciativa de pôr a salvo o seu espólio em local adequado,o que, decerto, constituirá um valioso recurso de consulta para quem quiser pesquisar sobre o passado recente dos concelhos de Cascais e Oeiras - e não só.
Não deixo de lamentar a extinção do Jornal da Costa do Sol e de sentir o falta que ele faz, como voz independente de afirmação cívica.
Obrigado, Zé, pela tua acção,
Jorge Miranda
Se há, como penso, um imenso fundo de verdade na afirmação de que «somos o que fazemos», será também esta afirmação fato que assenta que nem luva no que respeita à relevância da salvaguarda deste espólio. Por nós, claro. Mas muito também para quem nos suceda.
ResponderEliminarAssim, aqui fica também o meu eco das anteriores oportunas palavras de Jorge Miranda. Eco com chapelada e aplauso, que são mui justamente devidos a quem tanto porfia por que sejamos melhores por melhor fazermos.
Grande abraço, caro professor José d'Encarnação.
olha...uma noticia boa! Ena, já não estava habituado!
ResponderEliminarabraço, José!
carlos peres feio