Ele
há coisas que a gente dificilmente esquece. Alguma injustiça de que fomos alvo,
por exemplo.
Um dia, no
recreio da Escola Salesiana do Estoril, no já bem longínquo ano lectivo de
1955-1956, um colega meu estava aflito porque não conseguia sair da retrete: a
porta emperrara. Eu estava por perto, tentei empurrar com os ombros, mas a
porta resistia. Teve de ser com forte golpe de pé. Passava nesse instante lá
fora o Padre Caetano e não esteve com meias medidas: pregou-me valente carolo
da cabeça! Ainda hoje o sinto! De nada me valeram as explicações; aliás, o meu
colega já saíra e eu já apanhara o carolo!... Bastantes anos mais tarde,
contei-lhe, sem rancor. Que Deus lhe tenha a alma em descanso!
À
recordação deste episódio junta-se
sempre – é curioso! – um outro hábito da minha juventude: deliciava-me
com as histórias das Selecções do
Reader’s Digest. Eram histórias reais e ali se condensava, mesmo em singela
narrativa, sabedoria de vida vivida – e eu gostava de aprender.
Uma dessas histórias falava da pasta
dentífrica Não sei se era texto a dar conselhos sobre a melhor forma de viver o
dia-a-dia, escrito quiçá por conceituado psicólogo. Não sei. Recordo-me, porém,
clara mente – e disso acabei por
fazer norma de vida – que, a determinado
passo, o articulista propunha um desafio:
– Quer saber se é uma pessoa organizada? Vá à
sua casa-de-banho e observe a sua pasta dentífrica!
– A minha pasta dentífrica?
– Sim, a pasta dentífrica.
– Como assim?
– Olhe para ela e veja como a usa. Se
a vai esvaziando metodicamente, de baixo para cima ou se a esvazia como calha e
a deixa toda aos altos e baixos…
E não é que é verdade? Sem disso nos
apercebermos, nestas minúsculas acções quotidianas fica a nossa mane ira de ser bem retratada! Ao tomarmos consciência
disso, estamos a tempo de, significativamente, também a alterarmos para melhor!
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 615, 01-05-2013, p. 12.
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