Iniciou
a sessão uma senhora. Lia pausadamente, monocórdica. Cinco minutos depois,
metade dos assistentes começou a cochilar, mau grado o evidente interesse do
tema, resultado de longas horas de investigação .
As palavras da senhora soavam a canção
de embalar, a ritmo compassado.
A
dado momento, porém, fez pausa maior. Um dos congressistas deu conta, acordou e
desatou a bater palmas. Contagiou. Foi o aplauso geral!
Mas…
…
a senhora não acabara, de facto. Ao aplauso sucederam, pois, mal contidas gargalhadas.
A senhora, porém, retomou o discurso onde fizera a pausa maior e continuou na mesma
lengalenga durante mais seis longuíssimos e penosos minutos, como se nada
tivesse acontecido.
Mais
anos eu viva, não esquecerei o episódio, que me serve para explicar aos estudantes
que, numa reunião científica, há duas regras fundamentais: o religioso respeito
pelo tempo que nos é destinado e… falar para que nos oiçam e entendam. Não adianta
«ligar o turbo», teimar em meter o Rossio na Rua da Betesga! Assentar nas
ideias fundamentais e inovadoras a apresentar, claramente, sucintamente,
pausadamente, prendendo a atenção !
Por isso tive
pena, outro dia, quando o senhor – certamente uma sumidade na matéria – foi repetindo
várias vezes, durante os 45 minutos em que falou, que «tinha muito mais coisas para
dizer, mas o tempo não chegava, o tempo não chegava» – e a organização pedira-lhe que preparasse uma intervenção para… quinze minutos!
Publicado no jornal Renascimento
[Mangualde], nº 616, 15-05-2013, p. 12.
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