Na
verdade, tanto em Portugal como na Europa do Sul, os juros da dúvida externa
são de tal modo pesados que, a manter-se o paradigma político vigente, as
medidas preconizadas têm efeitos contrários aos que visam alcançar: o aumento dos
impostos leva, inexoravelmente, à fuga ao fisco como único meio de subsistência;
diminuir os ordenados implica diminuição
do poder de compra e, consequentemente, menor consumo e menos receitas fiscais.
Exemplo paradigmático é o do aumento para 23 % do IVA nos restaurantes, que
levou ao encerramento de milhares de estabelecimentos, com todo o cortejo de males
daí resultantes e que são evidentes para o senso comum.
Esse,
o primeiro problema dos Portugueses: não compreendem porque é que os
‘governantes’ não ouvem o ‘senso comum’ e se regem, em exclusivo, por teorias neoliberais
hauridas em manuais universitários e desgarradas da realidade portuguesa
(inteiramente diversa da dos países do Norte da Europa ou mesmo da Europa
Central).
O
segundo problema: até nem se importariam de fazer sacrifícios, se não vissem
que as dificuldades foram criadas por lobbies
financeiros (caso do BPN, por exemplo), cujos responsáveis permane cem impunes. De facto, se assim não fora, o
Português saberia governar-se bem; e já está, aqui e além, a dar a volta por
cima, dedicando-se, nomeadamente, à agricultura em novos moldes. Talvez por aí,
sim, haja uma luz ao fundo do túnel; e, felizmente, todos os dias temos informação de promissoras experiências, como a do aproveitamento,
no Algarve, das figueiras da Índia…
Terceiro
problema: o País está a envelhecer, mas nada se faz para promover o aumento da
natalidade e parece não se compreender que, neste momento, são os ‘velhos’ que
– com as suas pensões (por menores que sejam) – estão a suportar as despesas
com pais (ainda mais velhos), com filhos (desempregados) e com os netos! O
corte brutal nas pensões, ainda por cima oneradas com pesada taxa de
solidariedade (!), trouxe enorme descontentamento e a maior desconfiança. Os
resultados eleitorais de Itália são disso prova cabal: o Povo não acredita nos
políticos!
Publicado em Portugal-Post – Correio luso-hanseático [Hamburgo], nº 53, Maio de
2013, p. 20 (central, também com tradução
em alemão).
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