Dessas
rezas não sei. Contudo, tive papeira, como toda a gente, quando era catraio.
Minha avó matou a galinha melhor lá da capoeira (melhor para o efeito, já se
vê) e tenho a vaga ideia de que, dias a fio, me untou o pescoço com a enxúndia
da mesma. Era assim uma espécie de gordura, cheirava mal que se fartava, mas
fazia muito bem, curava num instante, garantia minha avó, que isso de ter
papeira é um perigo, pode deixar males para o futuro e o mê menino, Deus o abençoe, valha-nos Deus!
Descobri
que enxúndia é palavra clássica, do latim: axungia,
nome dado à banha do porco. Não sei se também tinha então virtudes
terapêuticas.
Punha-se
assim em pachos (e lembro-me que, um dia, apanhei merecida sova de meu pai e só
pedia a minha mãe que me pusesse pachos quentes nas nádegas, para atenuar a dor
das nelgadas que mãos calosas me
haviam aplicado. Pois também de pacho descobri agora que equivale a parche e
que tem igualmente origem latina (imagine-se!): vem de parthicum. Se calhar, mezinha que o Romano aprendeu com os Persas
(também chamados Partos). O certo é que se conta de uma saborosa receita romana
chamada «pullum parthicum», ‘o frango pártico’. E lá caímos nós na… enxúndia de
galinha, outra vez!... Já chega!
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 172, Maio de 2013, p. 10.
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