sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Afinal, a técnica é… um técnico! (Ou a ignorância instalada ao mais alto nível)

            Já suspeitava há algum tempo que esta sanha dos políticos contra os professores radicava no facto de eles, os políticos e seus ajudantes, não terem sido bons alunos em História e em Português.
            De História já temos provas bastantes que pouco sabem, porque – queiram ou não – a História é «mestra da vida» e, como o Povo diz, «quem semeia ventos colhe tempestades», sendo, para isso, necessário saber História para ter ideia do que é «vento» e do que é «tempestade», noções diferentes das usadas em contexto do Instituto da Atmosfera e do Mar (outra linda ‘coisa’ que ora inventaram para se ter novo logótipo e baralhar a escrita ou simplificá-la, porque se duvidava sempre se era ‘metereológico’ ou meteorológico!...). Quanto ao Português, os atentados são diários e o que mais nos admira é não haver quem ponha cobro nisto.
            Já todos nos entendemos em relação à presidenta. Não há como escapar: é presidente, substantivo comum-de-dois, como rezavam as gramáticas (não sei o que ora rezam, porque também aí os teóricos gostam de atrapalhar os sexagenários como eu). É presidente, é lente, é crente… quer seja do género feminino quer masculino.
            Descobri agora uma outra novidade, que deve ter saído de um bestunto inteligente: uma senhora que tenha a categoria de técnico superior é… técnico superior! E como tal se tem de assinar! Como se uma senhora que tenha o cargo de direcção de uma Escola seja, obrigatoriamente, «o director». Ou seja: esse do tal bestunto que isso ordenou oficialmente (e digo isto, porque me está a aparecer na identificação de funcionários públicos) não sabe distinguir a função da pessoa que a exerce! A função é masculina, a pessoa é masculina ou feminina se o seu nome for masculino ou feminino.
Já a mesma inépcia verbero constantemente a propósito de umas normas que há sobre o modo de citar bibliografia, emanadas, ao que parece, de um grupo de estudiosos para o efeito nomeado. Aconteceu (esta é a minha ideia!) que, no momento em que estavam a escrever as regras, se não aperceberam que o computador umas vezes põe hífen, outras travessão conforme lhe dá na real gana. Não viram, pronto! E, como numa das regras onde deve estar um travessão e não um hífen (que têm funções diferentes na frase, como vulgarmente se sabe…) saiu um hífen, por mais que a gente barafuste, tem de se pôr hífen, tem de se pôr hífen, mesmo que se saiba que está incorrecto.
Eu já escrevi lá para a Biblioteca Nacional de Portugal, que é (segundo me disseram) o sítio onde podem fazer alguma coisa para emendar o erro. Respondeste-me tu? Assim responderam eles! Nem sequer acusaram a recepção!
Que é que se lhes há-de fazer?!...

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 610, 15-02-2013, p. 11.

 

1 comentário:

  1. Transcrevo, com a devida vénia, os comentários que foram inseridos no meu mural do facebook e que agradeço:
    Zelia Marques Rodrigues: Pelo que tenho "visto e ouvisto" nos últimos tempos, a ignorância dos nossos governantes não se fica apenas pelos campos da História e do Português....
    Cristina Barros Moreno: Realmente, professor, vivemos numa época em que quem devia não dá valor nem à História nem ao Português, só às matemáticas que são essas que nos subtraem os ordenados!!!!

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