sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Andarilhanças (63)


As caixas PDO penduradas…
Já tive ocasião de contar, mas acho que o caso merece ainda maior divulgação, porque é precisamente isso que ora me preocupa: que baixemos os braços e, mais do que nunca, pensarmos «cada um que se amanhe!». Recordo-me sempre daquela senhora que, numa loja de Sófia, em Setembro de 1987, me deixou a falar sozinho ao balcão, porque tanto se lhe dava que eu comprasse como não, porque o patrão era o Estado e ela tinha o dela garantido ao fim do mês…
E o caso foi que, no dia 22 de Janeiro, ao passar, de manhã, pela Rua do Cobre, em Cascais, verifiquei que, em postes telefónicos, havia caixas PDO abertas devido ao vendaval, deixando a descoberto os circuitos electrónicos. Apressei-me a telefonar para o Apoio ao Cliente da PT.
Inútil: depois de várias tentativas de seguir os ‘comandos’ que vinham do gravador da central, vim a verificar que, por já não ser cliente da PT, não tinha um telefone que a empresa identificasse e, por isso, nada feito: não conseguia falar com um assistente!
Liguei, pois, por ser jornalista, para o número 21 500 2000, que é o das «Relações com os Media». O rapaz que me atendeu apressou-se a dizer-me, quando lhe expus a situação, que eu deveria ligar era para o apoio técnico ou para o serviço de avarias. Expliquei que já o fizera, debalde, por não ser cliente MEO, e apenas estava a ter algum interesse no caso por se me afigurar, como cidadão e como jornalista, que essa informação das caixas abertas poderia ter algum interesse para quem de direito. O rapaz ouviu-me, ouviu-me e… eu, perante o facto de o moço não me dar outra alternativa nem saber como poderia resolver o assunto (deduzi que não lhe fora dada formação para esse efeito e isso das caixas PDO penduradas era chinês para ele…), desliguei, garantindo-lhe que o não voltaria a incomodar.
            Por curiosidade, fui saber – por minha iniciativa – o que era uma caixa PDO. E é o seguinte:
«A Caixa PDO (Ponto de Distribuição Óptico) é uma infraestrutura destinada às redes GPON (Gigabit Passive Optical Network) com tipologia FTTH (Fibre To The Home) e FTTB (Fibre To The Bulding). Permite a ligação entre a rede de distribuição e o cliente, podendo ser instalada em interior ou exterior». Portanto, tanto pode ser da PT como de qualquer outra distribuidora.
À hora a que escrevo esta nota (tarde do dia 24), as caixas PDO lá continuam penduradas!...

Os livros
            Acho que os livros se escrevem para serem lidos, comentados, para se tornarem… «vida»!
Se calhar, nunca tinha pensado nisto a sério; mas, na verdade, ao olhar para trás, para a minha juventude, uma imagem que amiúde me ocorre é a da biblioteca itinerante do Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães, que mensalmente parava à minha porta, para que eu me abastecesse de leitura. Salgari, Júlio Verne, Júlio Dinis, Camilo, Steinbeck… tudo devorei, qual leitor compulsivo. E, de quando em vez, agarro nas folhas onde depositei apontamentos (eram livros que eu tinha de empréstimo…) e… surpreendo-me: muitas das ideias que então sublinhei são hoje do meu quotidiano, fi-las minhas, quase sangue do meu sangue!
            Creio que o livro cumpre a sua missão cabalmente quando, depois de lido, a ele apetece voltar, num saboreio… Nunca me canso de ler Torga nem Saint-Exupéry nem «As Aventuras de João sem Medo», de José Gomes Ferreira, ou a sua «Poesia III», por exemplo.

Dra. Rolendis de Albuquerque
            Ocorreu-me esta reflexão ao apresentar o livro de Teresa Mascarenhas sobre o cônsul Aristides de Sousa Mendes e, sobretudo, porque tenho em cima da secretária dois livros de Rolendis Solá Albuquerque passíveis de se integrarem nessa ideia de que o livro acaba por ser vida ou por retratar a vida.
            Chama-se um «Recordações de uma viagem a Itália para assistir à Canonização de São João de Brito. Trata-se de uma edição de autor, sem aqueles dados técnicos que são requeridos para uma publicação doutro género, que não esta, de 32 páginas ilustradas, que começa assim:
            «Entre papéis velhos encontrei um diário que fiz, sobre tudo o que vi e ouvi na peregrinação a Roma, já lá vão muitos anos, pois tudo aconteceu em 1947».
            Era, então, a autora aluna do Colégio São João de Brito, tinha 15 anos e, por isso, não admira que escreva na apresentação: «Hoje, ao pegar no diário, sinto muita satisfação em relembrar o que vi e ouvi e também porque os meus netos foram e alguns são alunos do Colégio São João de Brito».
            O outro livro, também edição de autor mas já com depósito legal (343202/12), dá conta do que foram as suas andanças pelo país no âmbito da apresentação, sobretudo nas escolas, do seu livro Pintura & Poesia, que eu tive a honra de prefaciar e de apresentar a 13-12-1994, na então Casa-Museu Verdades de Faria. O ministério considerara de interesse pedagógico essa sua ‘peregrinação’, agora pelos concelhos portugueses, e o livro é o relato dela, ilustrado com fotografias dos sítios, documentos, desenhos de crianças… Enfim, o testemunho de uma experiência deveras interessante, tanto mais que a Dra. Rolendis escolheu para subtítulo «Um projecto cultural depois da reforma». Ou seja, como também deixa entender na abertura do volume, quando alguém se aposenta ou reforma, pode optar por ir esperando que a morte venha ou, ao invés, pode partir noutras direcções e fazer aquilo que, mui frequentemente, nós sonhamos: «Quando me reformar…». Pois a Dra. Rolendis optou por seguir esses «novos caminhos, novas oportunidades, novos projectos» passíveis de ser abraçados pelos seniores e por «todos aqueles que querem continuar a trabalhar».
            E o resultado aí está, numa variegada paleta, que nos leva a quarenta e dois concelhos, aqui referidos por uma ordem decerto arbitrária ou cronológica (se o foi, as datas ficaram omissas), e que termina em Cascais, com menção a várias das actividades também aqui desenvolvidas.
            «Ternura» será, sem dúvida, a palavra mais ajustada para classificar este Poesia e Pintura, porque é exactamente isso que dele dimana, ingenuamente, sem pretensões, num entretecer de variada prosa, de poesia, de reprodução de pinturas suas ou de meninos das escolas…
                                                                                            
            Publicado em Jornal de Cascais, nº 330, 30.01.2013, p. 6.



1 comentário:

  1. Fico muito feliz pelo reconhecimento e elogio dedicado à minha avó!..É o nosso orgulho e exemplo a seguir..

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