A
reposição constituiu também ensejo
para – na presença dos presidentes da Câmara e da Junta de Freguesia – ser
entregue ao Grupo, no intervalo entre os dois actos, o crachá de ouro da Liga
dos Bombeiros Portugueses, como preito de homenagem no âmbito das comemorações
do seu centenário.
A crítica oportuna
Ainda
que o cunho local seja dado, primordialmente, pelos cenários – figuras da
sociedade ou da política cascalense não têm sido suficientemente ‘vistosas’
para inspirar quadros de revista… –, o mote inicial é um dos desenhos de Rafael
Bordalo Pinheiro de crítica à opressão nos primórdios republicanos. Os eles que, na altura, andavem aí eram bem diferentes dos de
hoje, mas o medo que instilam na população
e, sobretudo, os danos que lhe causam são, porventura, ainda maiores que
cacetadas ou alguma cena de tiroteio… O quadro final, a evocar palácio de
vampiros, é, nesse aspecto, deveras significat ivo
e o guarda-roupa dos actores revela-se, na circunstância, bem explícito, a revelar
os agentes económicos que, superiormente, quais sanguinários vampiros, nos
sugam até ao tutano!...
Crítica,
pois, da governação e crítica de
costumes, como não podia deixar de ser, com momentos sérios (como aquele em que
se verberam os que arrastam os jovens para a droga) e, sobretudo, momentos de grande
ironia, em que o trocadilho sugere, não explicita, e faz rir, na senda da sábia
máxima «castigat ridendo mores»: é a rir que se castigam os costumes! E, nesse
aspecto, como é natural, cenas ligadas à prostituição ,
à dita infidelidade conjugal, à homossexualidade detêm êxito garantido,
servidas, de resto, por actores que, com à-vontade, se mexem no palco e sabem
meter oportunas «buchas» quando os espectadores menos esperam.
Cascais
Do
que mais se prende com a vida cascalense, ressaltaria os momentos de fado, não
porque revista sem fado não é revista, sabe-se bem, mas pelo que isso significa
no ^âmbito da nossa tradição , que
urge reabilitar (e há zunzuns de que se está seriamente a pensar nisso):
Cascais foi sempre e, de modo especial, na década de 60, alfobre de fadistas,
uma das terras do «fado fora de portas» depois de o Campo Grande, por exemplo,
já ter deixado de o ser, porque englobado no crescimento urbano. Temos hoje uma
nova geração de fadistas que vive em
Cascais, que se ‘fazem’ e’em Cascais e as revistas do Grupo Cénico nunca deixaram
morrer essa tradição .
Eloquente
ainda, nesse aspecto, embora possa referir-se ao País, a evocação do trabalho dos calceteiros: a calçada
portuguesa que, em Cascais, se inspira nos motivos piscat órios.
Bonito, o quadro; sugestivo, mais uma vez, o guarda-roupa – aliás, uma das
grandes mais-valias, devida ao engenho do Quim Carvalho, responsável também, ao
que suponho, pela quase totalidade das coreografias, se não de todas.
Uma sugestão
E
esta última frase leva-me a uma sugestão.
Eu
sei que há todo um trabalho de equipa e que ninguém se quer pôr em bicos de pés.
Assim se há-de continuar a trabalhar. Contudo, quiçá não onerasse muito as despesas
do espectáculo a elaboração de um
programa, embora singelo, onde se discriminasse não apenas a sequência dos
quadros, mas os actores, os autores dos textos e – porque não? – se transcrevessem
também alguns dos textos cantados, porque assim se captaria melhor a malícia e a
subtileza da crítica «ao estado a que isto chegou»! Creio que poderia ser
também um bom veículo de publicidade a alguns mecenas.
Trata-se,
não o esqueçamos, e a determinado momento do espectáculo isso bem se sublinha, trata-se
de uma manifestação cultural e tanto
a Câmara como a Junta de Freguesia não desdenharão, decerto, em dar o seu apoio
nesse sentido.
O
Grupo Cénico tem página no facebook: http://www.facebook.com/#!/gcenicoahbvc?fref=ts
. Há que consultá-la não apenas para lá se colocar o «gosto!», mas também
para se saber quando a peça vai à cena. Dessa página retirámos, com a devida
vénia, as imagens que ilustram esta crónica, no caloroso voto de renovados
êxitos para tão briosa equipa!
Publicado em Cyberjornal, 24-02-2013:
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