– Tenho um amigo que já ronda os 80, mantém uma
jovialidade inigualável e escreveu livro de memórias, de capa marota: «O que
Fizeste da Vida, José?». E agora pergunto eu: «Que querem fazer da vida
vocês? Tu aí, Sandra, que queres fazer? E tu, Dário?…».
Silêncio sepulcral a tombar, pesado, na suavidade
da manhã.
– Sonhos, meninos! Quero agarrá-los também! Que
já tens 23 anos, namoras decerto, o curso vai acabar dentro de quatro meses,
num ápice… E depois? Contem-me dos sonhos!
Não os havia. Assim, conscientes, definidos,
agarrados, na corda que se prende firme à falésia para se alcançar o cimo… Ou
não mos quiseram confiar.
Tive, porém, a sensação de que a pergunta fora
mesmo inesperada. O Zé do livro de capa marota, dias depois, foi da mesma
opinião que eu.
E senti responsabilidade imensa!
Lembrei-me daquele jovem padre, dos arredores de
Turim, 2º quartel do século XIX, revolução industrial em pleno, crianças
maltrapilhas sem saberem que fazer. Arranjou-lhes bolas de trapos, um nó na
batina à ilharga e deu em jogar com eles. E passou a marcar encontro todos os
domingos de manhã. E, durante a semana, os putos iam sonhando com a bola de
trapos e o padre e as conversas que ele tinha e os sonhos que lhes contava –
como a raposa do «Principezinho», que alvitrou hora marcada de encontro para
que o sonho melhor se corporizasse… D. Bosco (era ele esse padre…) tem colégios
por todo o mundo – a ensinar como sonhos podem tornar-se realidade. O
Principezinho regressou, uma tarde, para o seu misterioso asteróide, lá onde
plantara uma flor para que, à noite, todas as estrelas lhe parecessem floridas…
– e nós continuamos a sonhar com ele, que nos ensinou sonhos bons:
«Importa que
os homens se metam nos comboios e saibam para onde vão!…».
José d'Encarnação
Post-scriptum: O livro citado é da autoria do Prof. José Esteves e foi publicado pela Multinova, em 2001, com o ISBN 972-0035-78-4.
Sem comentários:
Enviar um comentário