quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

«O que Fizeste da Vida, José?»

            A pergunta – tive essa sensação bem clara – caiu inesperada que nem tiro à queima-roupa vindo não se sabe donde:
– Tenho um amigo que já ronda os 80, mantém uma jovialidade inigualável e escreveu livro de memórias, de capa marota: «O que Fizeste  da Vida, José?». E agora pergunto eu: «Que querem fazer da vida vocês? Tu aí, Sandra, que queres fazer? E tu, Dário?…».
Silêncio sepulcral a tombar, pesado, na suavidade da manhã.
– Sonhos, meninos! Quero agarrá-los também! Que já tens 23 anos, namoras decerto, o curso vai acabar dentro de quatro meses, num ápice… E depois? Contem-me dos sonhos!
Não os havia. Assim, conscientes, definidos, agarrados, na corda que se prende firme à falésia para se alcançar o cimo… Ou não mos quiseram confiar.
Tive, porém, a sensação de que a pergunta fora mesmo inesperada. O Zé do livro de capa marota, dias depois, foi da mesma opinião que eu.
E senti responsabilidade imensa!
Lembrei-me daquele jovem padre, dos arredores de Turim, 2º quartel do século XIX, revolução industrial em pleno, crianças maltrapilhas sem saberem que fazer. Arranjou-lhes bolas de trapos, um nó na batina à ilharga e deu em jogar com eles. E passou a marcar encontro todos os domingos de manhã. E, durante a semana, os putos iam sonhando com a bola de trapos e o padre e as conversas que ele tinha e os sonhos que lhes contava – como a raposa do «Principezinho», que alvitrou hora marcada de encontro para que o sonho melhor se corporizasse… D. Bosco (era ele esse padre…) tem colégios por todo o mundo – a ensinar como sonhos podem tornar-se realidade. O Principezinho regressou, uma tarde, para o seu misterioso asteróide, lá onde plantara uma flor para que, à noite, todas as estrelas lhe parecessem floridas… – e nós continuamos a sonhar com ele, que nos ensinou sonhos bons:
«Importa que os homens se metam nos comboios e saibam para onde vão!…».
 
                                                  José d'Encarnação
 
Post-scriptum: O livro citado é da autoria do Prof. José Esteves e foi publicado pela Multinova, em 2001, com o ISBN 972-0035-78-4.

 

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